sábado, 10 de setembro de 2016

vôo

Alienada de minha potência criadora, de minha potência de vontade, modelo social que modela, mas não... não me encaixo, compreendo quase tudo e não aceito quase nada.
A arte é inútil só a quem interessa dominar.
Criar não! Reproduzir, submeter aos mandos, nas amarras do crédito.
Apostar no modelo de vida, de beleza, de obediência: obedecer e ter.
Posse como anestésico que cega e emudece, que aliena a alma.
É a dívida que detona o espírito criador.
Liberdade? Apenas um caderninho de inspiração pra ser guardado na gaveta ao lado do leito.
Nos agarramos à esperança mentirosa
Ou à uma mentira esperançosa
Como anestésico dessa dor maldita
e maldito são os dias em que as lágimas caem dos olhos.
Não aceito o que me nega, o que me aliena, o que me oprime.
Nego o que ameaça me engolir, me esculpir,
nego o que quer tirar de mim aquilo que na alma é meu estado de ser.
E então, imersa em minha dor como pepino em conserva acumulando azedume.
Olho pro horizonte as avessas e lá atrás o que vejo...
São retalhos do meu corpo outrora petrificado pelas sessões de choque depois que a música cessara
Então, peregrinando meu caminho de dor, fui recolhendo cada pedacinho meu
e em isolamento permaneço eremita, remendando, cosendo, cada parte num trabalho meticuloso...
permaneço costurando e em cada retalho, memória da minha vida e nem os olhos marejados embaçando a visão podem atrapalhar meu ofício tamanha determinação.
pareço estática, mas há combustão interna.
Algo renasce por dentro e não tardará o dia de bater asas e em momento sublime, em êxtase observarei do alto o imenso vazio de onde emergi e que outrora adentrei.
Agora percebendo sua pequenez. Porque o vazio tem dessas coisas de ser tão grande quando estamos imersos nele como quanto pequeno quando dele emergimos.

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