sábado, 17 de setembro de 2016

Oração de ateu

Um dia... quando nossas imagens transpassarem nossas retinas
e outros sentidos perceberem nossa (re)existência...
Para esse dia vamos rezar, acender vela, fazer macumba,
pedir aos deuses que tudo não passe de
um delírio romântico
um vazio semântico
um engano da mente
saudade inocente
que a dor não se torne maior
pra não corrermos perigo
de entrar outra vez num abismo
e assim tudo volta ao normal
o vazio entediante e sem prazer
o estável e sem brilho
muito menos emoção há de ter
muito menos iremos sofrer
pelo tempo perdido
no erro contido.

sábado, 10 de setembro de 2016

vôo

Alienada de minha potência criadora, de minha potência de vontade, modelo social que modela, mas não... não me encaixo, compreendo quase tudo e não aceito quase nada.
A arte é inútil só a quem interessa dominar.
Criar não! Reproduzir, submeter aos mandos, nas amarras do crédito.
Apostar no modelo de vida, de beleza, de obediência: obedecer e ter.
Posse como anestésico que cega e emudece, que aliena a alma.
É a dívida que detona o espírito criador.
Liberdade? Apenas um caderninho de inspiração pra ser guardado na gaveta ao lado do leito.
Nos agarramos à esperança mentirosa
Ou à uma mentira esperançosa
Como anestésico dessa dor maldita
e maldito são os dias em que as lágimas caem dos olhos.
Não aceito o que me nega, o que me aliena, o que me oprime.
Nego o que ameaça me engolir, me esculpir,
nego o que quer tirar de mim aquilo que na alma é meu estado de ser.
E então, imersa em minha dor como pepino em conserva acumulando azedume.
Olho pro horizonte as avessas e lá atrás o que vejo...
São retalhos do meu corpo outrora petrificado pelas sessões de choque depois que a música cessara
Então, peregrinando meu caminho de dor, fui recolhendo cada pedacinho meu
e em isolamento permaneço eremita, remendando, cosendo, cada parte num trabalho meticuloso...
permaneço costurando e em cada retalho, memória da minha vida e nem os olhos marejados embaçando a visão podem atrapalhar meu ofício tamanha determinação.
pareço estática, mas há combustão interna.
Algo renasce por dentro e não tardará o dia de bater asas e em momento sublime, em êxtase observarei do alto o imenso vazio de onde emergi e que outrora adentrei.
Agora percebendo sua pequenez. Porque o vazio tem dessas coisas de ser tão grande quando estamos imersos nele como quanto pequeno quando dele emergimos.